Os desavisados que passam pelo povoado de Cholula, a pouco mais de 100 km de distância da Cidade do México, talvez se surpreendam com a movimentação nos arredores da Iglesia de Nuestra Señora de los Remedios, padroeira da cidade. Mas o que eles talvez não saibam é que, para além de um importante santuário para os praticantes do catolicismo, abaixo da igreja, e ocupando um território de 186 mil metros quadrados, está enterrada a pirâmide de Tepanapa. A maior pirâmide do mundo, e o maior monumento já construído, como apontou a BBC.
Com 66 metros de altura e uma base de 450 x 450 metros, estruturalmente semelhante à pirâmide do Sol, em Teotihuacan, a também conhecida como Grande Pirâmide de Cholula ou Tlachihualtepetl (montanha feita à mão ou pelo homem, em cholulteca) tem o dobro do volume da pirâmide de Gizé, no Egito. E embora essa segunda seja de fato a mais alta do planeta, ela perde (e muito) em termos de volumetria.
Para os curiosos de plantão, em 2017, o Insider fez um vídeo bastante ilustrativo que compara a pirâmide de Tepanapa com outras construções semelhantes, como a própria pirâmide de Gizé e as pirâmides de Teotihuacan. 😉
Mas qual a história por trás da pirâmide de Tepanapa ou Grande Pirâmide de Cholula, você deve estar se perguntando, já que, muito provavelmente, nunca ouviu falar dela.
Pirâmide ou montanha
Bem, tudo começou há muito, muito tempo…
Quando os espanhóis, liderados por Hernán Cortés, chegaram em Cholula, a cidade era um importante centro religioso para o império asteca. Cheia de teocallis* dedicados a Quetzalcoatl, divindade também conhecida como serpente emplumada, Cholula recebia peregrinos de todo o território que hoje conhecemos como México.
Mas, diante da conquista, Cortés seguiu o costume espanhol e ordenou que os templos astecas fossem destruídos; em seu lugar, igrejas católicas deveriam ser erguidas. Hoje, há quase 300 paróquias registradas na cidade, segundo a Arquidiocese de Cholula – daí a expressão de que Cholula teria uma igreja para cada dia do ano.
E onde a Grande Pirâmide entra nessa história?
Construída a partir de 300 a.C e abandonada por motivos desconhecidos entre os séculos VII e VIII a.C, a Grande Pirâmide de Cholula obviamente sofreu com o passar do tempo. Então, quando os espanhóis chegaram à cidade, no século XVI d.C, a pirâmide não passava de uma grande colina coberta por mato – vale falar que a pirâmide consiste em várias pirâmides sobrepostas, por essa razão a grandeza da construção, que a cada etapa foi ficando maior.
Bom, mas por se tratar de uma suposta colina, e representar o ponto mais alto da cidade, os conquistadores espanhóis não perderam a oportunidade de também colocar uma igreja católica lá em cima, o santuário dedicado à Nossa Senhora dos Remédios, concluído em 1594.
Mas olha só: a pirâmide de Tepanapa só foi (re)descoberta em 1910 durante obras na região!

É possível visitar a pirâmide?
A resposta curta e grossa é sim! É possível visitar a pirâmide de Tepanapa.
Mas atenção aqui quando for organizar sua viagem pelo México. Isso porque talvez a visita à Grande Pirâmide de Cholula seja diferente do que você possa estar imaginando. Afinal, ela está enterrada – e não é só isso:
- O México é um país bastante católico, de modo que muitos dos habitantes da zona central, que abriga a área do antigo império asteca, já não dão a devida importância ao passado pré-hispânico do país.
- A Igreja de Nossa Senhora dos Remédios é um Patrimônio Histórico do México, o que anula qualquer chance da igreja ser derrubada para que a pirâmide de Tepanapa seja totalmente desenterrada.
Ainda assim, algumas partes da Grande Pirâmide de Cholula foram descobertas, de modo que uma ou outra estrutura pode ser vista a céu aberto, basta procurar pela entrada da zona arqueológica. Há ainda mais de 8 mil quilômetros de túneis já escavados por arqueólogos, sendo que 800 metros dessas passagens estão abertas para a visitação do público.
Também é possível subir a escadaria que leva à Iglesia de Nuestra Señora de los Remedios, cuja vista do vale e do vulcão Popocatepetl é estonteante!
Por fim, há diversos passeios guiados pela zona arqueológica de Cholula que podem ser fechados através de sites, como o Get Your Guide e Airbnb, ou pessoalmente, nos arredores da igreja. Alguns tours são oferecidos por arqueólogos e historiadores enquanto outros são conduzidos por pessoas locais – atenção para sempre realizar passeios com agências ou guias autorizados pela Secretaria de Turismo do país.
Quando visitei Cholula, fui com uma agência da Cidade do México; o passeio ao povoado fazia parte do combo Cholula + Puebla. Confesso que foi um pouco frustrante estar sujeita ao esquema rápido das agências de turismo, especialmente porque o principal motivo por trás da nossa vontade de conhecer a região era a Grande Pirâmide de Cholula. Então, basicamente, a 1 hora dada para aproveitar a zona arqueológica serviu apenas para subir e descer a colina rumo à Iglesia.
Minha dica para quem tem interesse em conhecer a pirâmide, sem estar preso aos grupos turísticos, é ir de ônibus para Puebla e, de lá, pegar um outro ônibus para Cholula. Ou então o trem turístico que liga as duas cidades. Ou ainda a opção que acredito ser a mais segura e confortável: fechar um Uber ou táxi na Cidade do México com destino a Cholula!
Em Cholula, acredito que vale muito a pena fechar um tour guiado pela zona arqueológica com algum guia local, como falei mais acima.
Serviço
INAH <> Zona Arqueológica de Cholula
Cholula <> Santuario de la Virgen de los Remedios
*Teocallis são pirâmides menores encimadas por um templo.
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