Uma noite no Sahara

Depois de um longo dia pelas estradas marroquinas, finalmente chegamos ao acampamento no meio do Sahara, onde passaríamos a noite. Formado por várias tendas, cheias de tapetes coloridos e estampados, o acampamento era cercado apenas por dromedários adormecidos, o que deixava o deserto mais interessante.

Os anfitriões? O povo nômade do deserto. Homens berberes, vestindo turbantes e túnicas azuis e falando numa mistura de francês, inglês e espanhol. Todos acolheram o grupo calorosamente. A noite, iluminada pela fogueira, foi cheia de dança e música.

Quando já era tarde eu e alguns amigos resolvemos sair do acampamento para ver as dunas, aproveitando a temperatura amena. Nossos olhos haviam se adaptado à escuridão e a Lua brilhava no céu de forma que era possível observar nossas sombras no chão.

Logo que deixamos as tendas, um homem apareceu atrás de nós. O jovem de turbante azulado, com uma barbicha preta despontando do queixo, aparentava ter uns 30 anos. Ele era um dos berberes que estava conosco mais cedo. Seu nome era Dris.

Contamos a ele que pretendíamos apreciar a paisagem, muito diferente para nós, nascidos em meio ao concreto e ao caos. Ele gostou da ideia e pediu que o seguíssemos, pois nos levaria para andar pelas dunas. Caminhamos um pouco em meio a uma paisagem espetacular: um mar silencioso de areia, iluminado pelo luar e pelo céu estrelado. Até que Dris pediu que esperássemos. Ele sumiu entre as dunas. Voltou carregando pedaços de raízes e folhas secas e indicou que sentássemos em circulo na areia fria, garantindo a todos que não havia risco de aparecer escorpiões ou cobras, pois era inverno e, nessa época, os animais não saem da areia. Ele juntou o que havia pego e com a ajuda de um isqueiro que tirou das vestes, acendeu uma fogueira.

Mais uma vez ele se levantou, pediu que esperássemos e desapareceu. Após alguns minutos, Dris retornou com uma bandeja. Foi então que ele contou que, a partir dali, faríamos como os nômades do deserto: partilharíamos. Dris encheu um copinho com chá e foi passando de mão em mão.

Dris falou do céu, das estrelas e de como era viver no deserto. Com ele aprendemos que a melhor forma de se mover pelas dunas é durante a noite sob a orientação das constelações. Ele contou que veríamos estrelas cadentes durante a noite, pois o céu estava estralado na medida certa – de fato, avistamos duas, foi rápido e mágico.

Dris ensinou que haviam três escolas durante a vida de um nômade do deserto: a escola materna, onde se aprende a conhecer o mundo e a realizar atividades básicas. A escola paterna, que ensina a caça e sobrevivência. E, a mais importante, a escola da vida, que testa os aprendizados, fazendo com que possamos crescer com eles ou não.

O nosso contador de histórias levantou e falou para que seguíssemos, pois havia chegado a hora de andar pelo deserto.

Naquela noite, a figura simples e tão diferente ensinou muitas coisas. Como o quão insignificantes somos perante a natureza e como coisas pequenas e, a principio, insignificantes como um chá, podem fazer uma diferença tremenda no modo como vemos as coisas. Todos fomos dormir incrédulos, pois não acreditávamos que havíamos tido uma noite tão preciosa. O berbere prendeu a atenção e encantou o pensamento de todos que tiveram a feliz oportunidade de ouvi-lo em meio ao Sahara e às estrelas.

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