*Este texto contém spoilers
Depois de uma espera de quatro anos, o terceiro filme da franquia Animais Fantásticos, Os Segredos de Dumbledore, finalmente chegou aos cinemas brasileiros. Como fã de carteirinha, e seguindo a tradição deste blog de publicar resenhas sobre a saga, não podia deixar de trazer as minhas primeiras impressões sobre esse que, na minha humilde opinião, é o filme mais controverso da franquia até agora – e o que com certeza irá ditar os próximos passos de Animais Fantásticos nas telas.
Com o veterano David Yates na direção, e J.K. Rowling e Steve Kloves no roteiro, Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore conta não só com a volta dos já conhecidos Eddie Redmayne, Dan Fogler, Alison Sudol, Jude Law, Callum Turner, Ezra Miller e William Nadylam, mas também com rostos novos, como Mads Mikkelsen (Hannibal e Doutor Estranho), Jessica Williams (Fora de Série), Richard Coyle (O Mundo Sombrio de Sabrina e Príncipe da Pérsia), Oliver Masucci (Dark) e, claro, a brasileira Maria Fernanda Cândido (Terra Nostra e O Traidor).
No terceiro capítulo da saga, o professor Alvo Dumbledore (Law) reúne um time extraordinário para impedir o bruxo das trevas Gellert Grindelwald (Mikkelsen) de controlar o mundo mágico através da Confederação Internacional de Magia.
Mas será que essa premissa funciona?
Afetada não só pela pandemia, que gerou diversas mudanças de data e impossibilitou gravações no Brasil, mas também pelas muitas polêmicas, que sondam Animais Fantásticos desde a estreia do primeiro filme, a franquia vem se desgastando cada vez mais.
Começando pela transfobia de J.K.Rowling nas redes sociais até o afastamento de Johnny Depp, por conta de acusações de violência doméstica, e a entrada de Mads Mikkelsen no papel de Gellert Grindelwald, temos ainda a prisão de Ezra Miller, no Havaí, um dia antes da premiere de lançamento do filme em Londres, no dia 29 de março.
Também podemos adicionar à lista Katherine Waterston se posicionando veementemente contra as falas da criadora do mundo mágico – motivo pelo qual sua personagem, Tina Goldstein, teria sido cortada de Os Segredos de Dumbledore (falarei sobre isso mais para frente).

Indo direto ao ponto: Os Segredos de Dumbledore não funciona dentro da franquia, que, honestamente, está cada vez mais incoerente já que cada um dos três filmes lançados parece apontar para uma direção, de modo que fica difícil entender qual é o fio condutor da narrativa no fim das contas.
A impressão é que com o sucesso de Animais Fantásticos e Onde Habitam, a franquia virou um repositório de referências para Harry Potter – sim, Minerva McGonagall, estou falando de você; mas isso também serve para a família Lestrange e até mesmo para a coitada da Nagini, incorporada no segundo filme sem muita cerimônia.
E antes de mais nada, eu também acho muito legal ver um ou outro easter-egg. Mas, convenhamos, um filme, ou melhor, uma saga, não pode se apoiar em alusões. Afinal, o resultado acaba sendo uma narrativa que não consegue deslanchar com personalidade própria já que vive na sombra de algo que já passou.
Como se não bastasse, a narrativa de Os Segredos de Dumbledore é corrida, a montagem confusa e o roteiro é cheio de pontas soltas, sem se preocupar em desenvolver os diversos arcos abertos em Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald.
Se por um lado Credence (Ezra Miller) foi praticamente esquecido no novo filme e Yusuf Kama (William Nadylam) simplesmente jogado na história, Queenie Goldstein foi totalmente desperdiçada. Como alguns fãs já vinham especulando, a personagem de Alison Sudol se arrependeu de ir para o lado de Grindelwald. Mas e aí? Queenie (literalmente) surtou no segundo filme, foi para a terapia e voltou em Os Segredos de Dumbledore como se nada tivesse acontecido, simples assim (risos).
Falando nisso, uma das principais motivações por trás da postura de Queenie foi o fato do casamento entre trouxas e bruxos ser proibido nos Estados Unidos. No entanto, parece que essa questão também foi resolvida do nada nos minutos finais, quando vemos ela e Jacob juntando as escovas.
E sobre a Tina Goldstein de Katherine Waterston… melhor nem comentar. Par romântico de Newt Scamander, a personagem foi praticamente cortada do terceiro filme. Com duas cenas corridas no final do longa, a inserção da personagem foi tão ridícula que teria sido melhor se ela, de fato, não participasse de Os Segredos de Dumbledore – e, aqui, preciso comentar que a ausência de Tina é totalmente incoerente não só por ela ser uma das personagens principais, mas também por conta de todo seu arco narrativo. Quer dizer, sua irmã amada vira seguidora do bruxo das trevas mais temido de todos os tempos e você está preocupada em deslanchar sua carreira como auror? No mínimo uma desculpa bastante esfarrapada para tirar Waterston de cena. 🤔
Aliás, falando em protagonistas, apesar da franquia ser chamada de Animais Fantásticos e sua premissa ser pautada na jornada do magizoologista Newt Scamander, o bruxo de Eddie Redmayne está cada vez mais longe da palavra protagonista. Daí meu argumento de que está cada vez mais complicado de entender qual é, afinal, o fio condutor da franquia – decida-se, Warner!

Por outro lado, vale mencionar que o dinamarquês Mads Mikkelsen se encaixa perfeitamente no papel de Gellert Grindelwald – e arrisco dizer que ele teria sido excelente se participasse da franquia desde o princípio. Embora Depp tenha desempenhado o papel com maestria (e eu seja fã de seu trabalho), Mikkelsen imprime seriedade e um tom de terror no bruxo das trevas.
Contudo, é inegável que nessa altura do campeonato fica difícil separar Grindelwald de Johnny Depp. E aqui também é preciso aplaudir a manobra no mínimo corajosa da Warner de iniciar o filme com o Grindelwald de Mikkelsen, deixando claro desde o princípio os novos rumos do personagem.
Mas e quanto a Maria Fernanda Cândido? Embora a Vicência Santos da brasileira desempenhe um papel-chave dentro do universo mágico, no fundo, a participação da atriz está mais para uma figuração de luxo já que ela teve algumas poucas aparições e meia dúzia de falas (mas pelo menos ela ganhou uma varinha!).
De qualquer forma, após todos esses anos como fã de Harry Potter, foi muito legal assistir uma representante do Brasil dentro do Wizarding World.

Em geral, Os Segredos de Dumbledore dificulta ainda mais o desenvolvimento da história e mostra que talvez seja a hora de J. K. Rowling se aposentar do cargo de roteirista – alguns fãs que me perdoem, mas além de todos os pontos que levantei ao longo deste texto, não achei “os segredos de Dumbledore” tão secretos assim já que a maioria vinha sendo teorizada por muitas pessoas há algum tempo. Talvez a grande sacada tenha sido o estúdio (e a autora) finalmente assumir na grande tela o fato de Dumbledore ser gay.
No mais, o filme entrega as já conhecidas cenas carinhosas entre Newt e suas criaturas, além das tiradas divertidas de Jacob Kowalski, agora dono de uma varinha (queria!), sem trazer muitas novidades.
Após quase duas horas e meia sentada na poltrona do cinema, não consigo imaginar como a franquia pode vir a se desenvolver levando em conta sua construção até o momento. Talvez, teria sido mais sensato lançar Animais Fantásticos como uma trilogia de Newt Scamander e, depois, mais dois filmes focados na luta entre Dumbledore e Grindelwald.
Um dos grandes trunfos de Animais Fantásticos e Onde Habitam foi trazer uma história ambientada no mundo de Harry Potter, mas que não se tratava de Harry Potter. No entanto, cada vez mais isso vem se perdendo para dar dar lugar a prequelas recheadas de fanservice.
Por fim, vale lembrar que, para a tristeza dos fãs, Os Segredos de Dumbledore pode, sim, ser o fim de uma franquia que deixou a desejar, seja pelas polêmicas ou pela preguiça do estúdio de construir uma boa história.
É inegável que o filme se encerra com um tom de despedida, deixando os próximos passos em aberto – até porque, agora que o pacto de sangue entre Dumbledore e Grindelwald foi quebrado, todo mundo já sabe o que vai acontecer.
Ficha técnica
Título: Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore)
Ano: 2022
Lançamento: 14 de abril de 2022
Distribuição: Warner Bros.
Gênero: fantasia, aventura
País: Estados Unidos e Reino Unido
Roteiro: J. K. Rowling e Steve Kloves
Produção: J. K. Rowling, David Heyman e Steve Kloves
Direção: David Yates
Elenco: Eddie Redmayne, Dan Fogler, Alison Sudol, Jude Law, Callum Turner, Ezra Miller, William Nadylam, Mads Mikkelsen, Jessica Williams, Richard Coyle, Oliver Masucci, Poppy Corby-Tuech, Victoria Yeates, Maria Fernanda Cândido, Aleksandr Kuznetsov, Valerie Pachner, Dave Wong e Fiona Glascott
Classificação: 12 anos
Duração: 2h22
Atualizado em 15 de abril de 2022 às 15h35.