*Este texto contém spoilers
Muito antes da estréia, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald agitou potterheads não só através de imagens e trailers divulgados, mas também com a expectativa de como o enredo, propriamente dito, se desenvolveria. Como fã do universo mágico criado por J.K.Rowling, que volta como roteirista, eu estava muito ansiosa para assistir ao novo filme e tenho que dizer: adorei!
Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, também dirigido por David Yates, é estrelado pelos veteranos Eddie Redmayne (Os Miseráveis, A Teoria de Tudo e A Garota Dinamarquesa), Katherine Waterston (Steve Jobs), Dan Fogler (Kung Fu Panda e O Amor Acontece), Alison Sudol (Between Us), Ezra Miller (Precisamos Falar Sobre Kevin e As Vantagens de Ser Invisível) e Johnny Depp (Edward Mãos de Tesoura, Em Busca da Terra do Nunca e franquia Piratas do Caribe). Entram para o elenco Jude Law (Closer, Sherlock Holmes e O Grande Hotel Budapeste), Claudia Kim (Vingadores: A Era de Ultron e Marco Polo), Zoë Kravitz (Sem Reservas, Mad Max: Estrada da Fúria e Big Little Lies), Callum Turner (Assassin’s Creed e Apenas Um Garoto em Nova York) e William Nadylam (Homesick e Minha Terra África).



Meses depois dos eventos mostrados em Animais Fantásticos e Onde Habitam, o bruxo das trevas Gellert Grindelwald, capturado pela MACUSA (Congresso Mágico dos Estados Unidos da América) com a ajuda do magizoologista Newt Scamander, escapa e ameaça acabar com a paz entre os mundos mágico e não mágico ao recrutar seguidores em prol do “bem maior”. Para deter Grindelwald e impedi-lo de conquistar a confiança do jovem Credence Barebone, que busca por suas origens em Paris, o professor Alvo Dumbledore conta com a ajuda de Newt.
Em poucas palavras, é em Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald que a história começa a se desenrolar para valer e ficamos por dentro das sombras que irão assolar o mundo bruxo entre as décadas de 1930 e 1940. Diferentemente do primeiro filme, claramente uma introdução, este deixa claro que a franquia não será feita somente de criaturas mágicas e trás um boom de personagens e acontecimentos, além de oferecer uma narrativa complexa.
Particularmente, não consigo imaginar Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald sendo diferente e muito menos seguindo o mesmo ritmo de seu antecessor. Obviamente, apesar da vontade de querer saber mais sobre a casa do Newt, o Ministério da Magia da França, o circo Arcanus, a família Lestrange e a própria Nagini, não acho que o enredo funcionaria ao se apegar nesses elementos. Diante da posição que o segundo filme assume dentro da franquia, é de se esperar um enredo mais pincelado e focado no futuro.

Por se tratar de uma obra que transita entre a introdução e o desenvolvimento de uma saga, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald pode parecer confuso, corrido e deixar a sensação de que muita informação foi jogada na cara do espectador de uma vez. Mas, se tudo fosse explicado e mostrado nos mínimos detalhes, penso que o filme teria de ser mais longo, além de arrastado e, no fim, não levaria a lugar algum, forçando as sequências a apresentarem informações muito mais superficiais – terão mais três longas para desenvolver tramas importantes dentro da franquia. Esse filme pedia ação e acontecimentos que impactassem dentro da saga e não mais apresentações.
A narrativa se desenrola de forma que tudo se encaixa e a sensação é de que as coisas aconteceram como tinham de ser. Por exemplo, não consigo imaginar Queenie Goldstein e Jacob Kowalski participando das próximas histórias se o relacionamento seguisse uma linha mais florida, como acontece no primeiro filme. Queenie é uma legilimente e, para mim, faz mais sentido ela ir para o lado do Grindelwald do que o contrário – lembrando que o bruxo das trevas provavelmente já sabia das habilidades dela uma vez que “trabalhava” na MACUSA disfarçado de Percival Graves. Além disso, Queenie se interessar por um non-maj, vivendo numa sociedade com uma lei mágica mais rígida, é grande empurrão para que ela flerte com as ideias de Grindelwald. Diante desses fatos, acredito que caso tudo ficasse bem entre o casal a trama seria tosca – e o que as sequências mostrariam? A luta travada por Queenie e Jacob para se casarem?
Não posso deixar de comentar sobre o final, talvez o mais polêmico dentro do universo de Harry Potter. A revelação, feita por Gellert Grindelwald, de que Credence Barebone é, na verdade, Aurelius Dumbledore (irmão de Alvo) deixou todos os fãs alvoroçados. Pessoalmente, acredito que Grindelwald está mentindo para Credence; afinal, além dele já ter mentido outras vezes, o bruxo das trevas claramente está mais interessado no poder que o jovem representa – também estou apegada a essa teoria pois sou fiel à linha do tempo desenvolvida ao longo das histórias já existentes no mundo mágico (cronologicamente, Credence não poderia ser filho dos pais de Alvo porque ambos morreram antes de 1900; e, obviamente, o garoto tem menos de 27 anos). De qualquer forma, tenho certeza que J.K.Rowling irá construir uma narrativa surpreendente em torno dessa novidade.

Quando assisti Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald pela primeira vez (foram quatro), fiquei muito surpresa com o fato de Eddie Redmayne voltar como um Newt Scamander ainda melhor – sim, ele já era perfeito como Newt; mas, algo aconteceu e fez com que o personagem estivesse ainda mais vivo na pele do ator.
Também confesso que quando soube que Alvo Dumbledore voltaria para as telas e seria vivido por Jude Law torci levemente o nariz. Mas não podia estar mais errada. Apesar de um Dumbledore mais jovem, é possível sentir que o sábio diretor de Hogwarts, descrito nos livros e vivido nos filmes, está ali através de simples gestos ou falas.
O Gellert Grindelwald de Johnny Depp também se destacou bastante, pelo menos para mim; isso porque tenho a impressão que o capitão Jack Sparrow está presente em todos os personagens vividos por Depp (principalmente no modo de andar) desde que Piratas do Caribe estreiou nos cinemas em 2003. Felizmente, em Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, Sparrow passa longe e um bruxo das trevas persuasivo, cruel e poderoso é apresentado.
Novamente, tiro o chapéu para a fotografia e para o visual apresentado – dessa vez, o cenário é dividido entre Paris e Londres. Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald não deixa nada a desejar ao mostrar imagens bonitas, mas com um quê sombrio, construido a partir do jogo de luz/ sombra e de tons mais frios.
A trilha sonora, mais uma vez assinada por James Newton Howard (Uma Linda Mulher, O Sexto Sentido e franquia Jogos Vorazes), deixa de lado notas alegres e animadas para privilegiar melodias que invocam o mistério, combinando com a atmosfera do filme.
O figurino é de Colleen Atwood, responsável por trazer a primeira estatueta do Oscar para o universo mágico em 2017 (Animais Fantásticos e Onde Habitam faturou o prêmio de melhor figurino), e é tão elegante quanto no longa anterior. Ressalto que o vestuário é um elemento importantíssimo dentro do mundo do cinema, pois pode dizer muito sobre os personagens – Queenie Goldstein troca as roupas leves e cor-de-rosa por vestes escuras e de aspecto mais pesado; Tina não rejeita o figurino sério, porém volta com um estilo claramente mais maduro, por exemplo.

Preciso falar que Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald trás muito mais nostalgia e um show de fanservice. O maior de todos, e também o mais controverso (por conta da cronologia descrita tanto nos livros de Harry Potter quanto no Pottermore), é a aparição da professora Minerva McGonagall – ao mesmo tempo que penso ter sido algo bem pequeno, acredito que foi desnecessário; basicamente, McGonagall começa lecionar na escola apenas na década de 1950. As cenas externas e internas de Hogwarts, somadas à música tema dos filmes Harry Potter, já seriam um enorme presente para os fãs e não pisaria em cima da linha do tempo criada por J.K.Rowling – sem contar com Nicolau Flamel e a pedra filosofal, os Testrálios, a família Lestrange, o Ministério da Magia Britânico, Hogwarts, o espelho de Ojesed, Riddikulus e o bicho-papão, a varinha das varinhas, a própria Nagini e, possivelmente, a Fawkes.
Acredito que se Animais Fantásticos e Onde Habitam funcionava bem tanto para os veteranos de Harry Potter quanto para os novatos, o segundo filme é para aqueles que já estão habituados com o mundo de J.K.Rowling e, consequentemente, por dentro dos próximos acontecimentos.
Curiosamente, apesar de compartilharem o mesmo universo, Animais Fantásticos e Harry Potter são produtos totalmente distintos e cada um tem sua própria magia. Talvez, essa diferença entre sagas seja um reflexo da vida real, que é volátil e pode mudar em frações de segundos. Em outras palavras, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald deixa claro que o universo mágico cresceu, assim como os fãs da saga original, ao trazer para as telas um enredo mais intricado.
Ficha técnica

Título: Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald)
Ano: 2018
Lançamento: 15 de novembro de 2018
Distribuição: Warner Bros.
Gênero: fantasia, aventura
País: Estados Unidos e Reino Unido
Roteiro: J. K. Rowling
Produção: J. K. Rowling, David Heyman e Steve Kloves
Direção: David Yates
Elenco: Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Ezra Miller, Johnny Depp, Jude Law, Claudia Kim, Zoë Kravitz, Callum Turner, Carmen Ejogo, William Nadylam, Brontis Jodorowsky, Kevin Guthrie, Fiona Glascott, Ólafur Darri Ólafsson, Poppy Corby-Tuech, Victoria Yeates, Derek Riddell, Toby Regbo e Jamie Campbell Bower
Classificação: 12 anos
Duração: 2h14